O texto de Neuza Ceciliato de Carvalho, Fantasia e emancipação em três tempos, nos leva a compreender a literatura infantil como uma mágica que atrai espontaneamente as crianças.
A literatura fantasista sempre foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura destinada a crianças e jovens. Através do prazer ou das emoções que as histórias lhes proporcionam, o simbolismo que está implícito nas tramas e personagens vai agir em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida.
Segundo a autora, nessa perspectiva a fantasia seria um dos elementos do processo de emancipação infanto-juvenil, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, afetiva e emocional do indivíduo, ao possibilitar a compreensão de si mesmo.
Os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional. É durante essa fase que surge a necessidade da criança em defender sua vontade e sua independência em relação ao poder dos pais ou à rivalidade com os irmãos ou amigos.
É nesse sentido que a Literatura Infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. O maniqueísmo que divide as personagens em boas e más, belas ou feias, poderosas ou fracas, etc. facilita à criança a compreensão de certos valores básicos da conduta humana ou convívio social. Tal dicotomia, se transmitida através de uma linguagem simbólica, e durante a infância, não será prejudicial à formação de sua consciência ética. O que as crianças encontram nos contos de fadas são, na verdade, categorias de valor que são perenes. O que muda é apenas o conteúdo rotulado de bom ou mau, certo ou errado.
Lembra a Psicanálise, que a criança é levada a se identificar com o herói bom e belo, não devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria personificação de seus problemas infantis: seu inconsciente desejo de bondade e beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim superar o medo que a inibe e enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta, podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto.
No segundo momento do texto, a autora faz uma análise de três histórias – A terra dos meninos pelados (de Graciliano Ramos), O homem feito (de Fernando Sabino) e Bisa Bia, Bisa Bel (de Ana Maria Machado) – para comprovar a ligação do imaginário com a identidade da criança.
Nessa reflexão, as histórias são fantasias que se ligam intimamente com a vivência da criança, sendo capazes de fazer com que ela supere suas diferenças, enfrente o mundo real e encare os conflitos entre ser criança e tornar-se adulto. Assim, há a busca de compreensão, pela criança, de seu próprio eu e de sua identidade.
Finalmente, o texto é concluso com a confirmação de que no mundo imaginário é que nasce a possibilidade de emancipação das personagens protagonistas. Daí a importância da produção literária para a infância e juventude, no espaço escolar e fora dele, bem como uma proposta de leitura mais livre e aberta, de modo a fazer que os leitores vivenciem as histórias pela interação prazerosa com o mundo ficcional criado pelos escritores.
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