Pular para o conteúdo principal

A formação de leitores à luz da família, escola e da literatura.


A formação de leitores à luz da família, escola e da literatura.

É certo afirmar que a leitura se faz necessária em todos os ambientes da nossa sociedade, que ela amplia nossos conhecimentos, aperfeiçoa a escrita, enriquece nosso vocabulário e desenvolve nosso senso crítico, sendo essa a importância que o domínio dela traz para os indivíduos.
Martins (1988, p. 37) destaca que há três níveis de leitura a saber: a leitura sensorial realizada através dos sentidos, a leitura emocional que mexe com os sentimentos e a leitura racional que nos leva à reflexão e ao questionamento. Acrescenta ainda que não se deve supor a existência isolada de cada um desses níveis, pois eles se inter-relacionam (MARTINS, 1988, p. 77).
Para o indivíduo desenvolver o gosto pela leitura, o ambiente familiar tem uma grande parcela de responsabilidade nesse estímulo, pois como afirma Vieira (2004, p. 06) “o leitor formado na família tem um perfil diferenciado (...) O leitor que se inicia no âmbito familiar demonstra mais facilidade em lidar com os signos, compreende melhor o mundo no qual está inserido (...)”. É claro que a escola tem um papel importante na formação de leitores, mas o papel da família é o primeiro de primordial importância e determinante no desenvolvimento do gosto pela leitura.
São muitos os fatores que interferem negativamente no processo de leitura, principalmente a falta de contato com ela. Sabemos que o ato de ler não se reduz a decifração de signos do alfabeto, mas articula sentidos, promove entendimento de significados, desperta a curiosidade, aguça o senso crítico, ajuda na construção do conhecimento de mundo e na transformação da própria realidade. Para Martins (1988, p. 17), “dá-nos a impressão de o mundo estar ao nosso alcance; não só podemos compreendê-lo, conviver com ele, mas até modifica-lo à medida que incorporamos experiências de leitura.”
Leitura, diferentemente do que se pensava, não é um ato solitário, é uma interação entre leitor e autor, onde o leitor que faz parte de um grupo social, traz para a leitura seus conhecimentos individuais de mundo e suas experiências prévias de vida, preenchendo o texto com sentidos pessoais e sócio-históricos de seu tempo e seu entorno. Martins (1998, p. 33-34) argumenta que a leitura só acontece quando há diálogo do leitor com o objeto lido, seja desenho, musicas, cinema, etc.
É claro que num processo inicial de leitura, a criança entra em contato com ela através de histórias, ilustrações, e outras fontes que permita entrar no mundo da leitura, e a contribuição da família é de grande importância para o desenvolvimento desse processo, pois segundo Raimundo (2007, p. 112), “o leitor que teve contato com a leitura desde cedo dentro de casa é diferenciado ao saber reconhecer os signos com maior facilidade que um aluno que teve seu primeiro contato ao entrar na escola.” É no âmbito familiar que as contações de histórias no momento do sono acontecem, que os filhos observam os pais e o contato com os livros. Os estímulos dos pais e a convivência com materiais de leitura no ambiente familiar permitem que o indivíduo construa o gosto pela leitura, no contato com jornais, revistas, receitas utilizadas pela mãe. São esses primeiros contatos que marcam a criança a tal ponto que elas se entusiasmam a aprender a ler e escrever para poderem fazer suas próprias escolhas de leitura.
Já na escola, geralmente o aluno não suporta ler porque os textos não são de seu interesse, não despertam o prazer no momento da leitura, além de ser uma exigência para uma avaliação, para responder questões, etc. Rocco (2003, p. 41) ressalta que a escola trabalha com muitas interfaces da leitura, ora para busca de informação, ora por natureza funcional, acabando por constituir em desagradável exercício de coerção, de autoritarismo, anulando as possibilidades de fruição da leitura.
Ao se pensar em leitura a escola precisa entender que precisa formar leitores para toda a vida. Portanto, há de se considerar o contato dos alunos com as mais variadas leituras, abrindo espaços para depoimentos, comentários, discussões acerca do que foi lido, de modo que instigue o aluno ao gosto pela leitura dentro e fora da escola. Bamberger (1995, p. 24) nos diz que é preciso incentivar a leitura a ponto de fazer com que o aluno se sinta bem e realizado ao ler, sendo esta uma ferramenta que leva ao aprendizado e ao desenvolvimento da crítica, mas que precisa ser degustada com divertimento para que amplie o gosto pela leitura nos alunos, estimulando-os a leitura permanente de diferentes textos.
Para tanto, os professores precisam motivar os alunos através de planejamento e seleção dos materiais a serem lidos e ao indicar leituras, devem ter em mente que afetará positivamente ou negativamente a forma como os indivíduos entenderão a si mesmos e ao mundo.
A prática da leitura é importante para a formação do indivíduo bem como para a sua representação social, sendo responsabilidade compartilhada da família e da escola para que o processo de incentivo à leitura aconteça dentro e fora da sala de aula.
No entanto, se analisarmos os dados de avaliações como as do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), Prova Brasil e PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) bem como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), a deficiência de leitura é indicada pelas médias de desempenho abaixo do desejável. Magda Soares (2005) argumenta que ler é um verbo transitivo e que a ação de ler está diretamente associada à natureza do material, ou seja, ao ler um determinado gênero se estabelece um pacto singular entre o sujeito que lê e o material lido.
Como já ressaltado anteriormente que o a escola precisa trabalhar com o aluno o gosto pela leitura, o que se percebe é que a leitura literária tem sido deixada de lado, apesar de ser através dela que se pode provocar a humanização do leitor. Nesse contexto, é o texto literário que trabalha com as revelações de ações humanas, conflitos, inquietações, e que deveria ser indicado pela escola para desenvolver o gosto pela leitura. A leitura de um texto literário aproxima mais o leitor da sua própria realidade e dá mais significado ao que está sendo lido permitindo assim um alargamento da experiência do leitor, de modo que ele possa viver papeis distintos daqueles que desempenha no seu cotidiano, já que a literatura contém uma reserva de vida que potencializa as experiências humanas por meio da leitura.
Ler literatura seria uma forma da escola educar pela experiência, propiciando e atualizando vivências e construindo saberes a partir delas. Em síntese, a leitura literária na escola seria uma forma de contribuir efetivamente para uma educação emancipatória.
Por último, acreditamos na contribuição da família, da escola e da literatura para a formação de leitores, devendo o professor apresentar-se como mediador desse processo, como leitor que motiva, que se mostra como solução para desenvolver o gosto pela leitura, um professor que gosta de ler, porque para ensinar a ler primeiramente é necessário gostar de ler, um professor que reflita com seus alunos sobre as organizações discursivas do texto, um professor que inove para além do currículo escolar. O trabalho com leitura só fará sentido e obterá melhores resultados quando deixar de ser engessado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOTINI, Gleise Aparecida; FARAGO, Alessandra Corrêa. Formação do leitor: papel da família e da escola. Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade. Bebedouro – SP, 1: 44-57, 2014.
PINHEIRO, Alexandra Santos; RAMOS, Flávia Brochetto (Org.). Literatura e Formação Continuada de Professores: desafios da prática educativa. Campinas, SP : Mercado de Letras ; Dourados, MS : Editora da Universidade Federal da Grande Dourados, 2013. p. 27-38

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA AFROBRASILUSA: TENTATIVA DE CONCEITO

Inicialmente, o texto nos faz refletir sobre a formação da Língua Portuguesa a partir de diversidades culturais e dominantes concebida por civilizações que colonizaram as terras da América do Sul, África e Ásia. Partindo dessa perspectiva e analisando a formação do povo brasileiro – ameríndios, africanos e lusitanos – é que nossa identidade cultural cristaliza-se a partir dessa heterogeneidade. Uma das questões mais debatidas na literatura contemporânea é a questão da identidade. Num mundo globalizado, em que se ameaça excluir as diferenças culturais entre os países, a afirmação das identidades nacionais se faz quase que obrigatória. Assim, a Língua Portuguesa que em momentos decisivos de nossa história foi instrumento de nossa própria identidade não pode desaparecer também de outras culturas que dela fizeram/fazem uso, pois a cultura consiste numa constante transfusão de resíduos. Foi assim com todos os povos que conhecemos, principalmente os portugueses, que somados aos romanos, ...

Discurso de professor homenageado da Turma de Graduação em Letras - FVJ - Lagoa do Mato, Itatira CE, em 26/09/2015

Inicialmente, quero saudar a mesa em nome da nossa coordenadora local Elizabete Ribeiro, que através do seu esforço, vem trabalhando para ampliar os horizontes do conhecimento aqui em Lagoa do Mato. Caros alunos formandos, pais, colegas professores, agentes universitários, comunidade aqui presente É uma grande honra e responsabilidade para mim, representando aqui também todos os facilitadores que ministraram aula na turma de Letras, poder fazer parte desse momento tão especial quando vocês, caros formandos, concluem mais uma etapa estudantil em vossas vidas. O professor universitário está numa posição de provocar o desconforto intelectual necessário ao desenvolvimento do conhecimento. Se pude fazer isso e ainda estar aqui discursando foi devido a uma grande generosidade de vocês. As letras tem esse poder perturbador porque conseguem agregar à arte de ler e interpretar em cada época, de acordo com as necessidades humanas, o desafio de confrontar com o mundo outros sujeitos, vária...

TEXTO DRAMÁTICO

TODO MUNDO E NINGUÉM (Auto da Lusitânia, de Gil Vicente) (Adaptação de Carlos Drummond de Andrade) (Readaptação: Lucínio Barbosa) 3 homens (Entra Todo Mundo, homem como rico mercador (fumando um cachimbo, usando um chapéu, todo metido) e faz que anda buscando alguma coisa que ele perdeu. Logo em seguida encontra-se com um homem, vestido como pobre, este se chama Ninguém, e diz:) NINGUÉM: O Senhor tá a fim de quê? TODO MUNDO: A fim de coisas buscar/ que não consigo topar./ Mas não desisto,/ porque o cara tem de teimar. NINGUÉM: E como é o teu nome, cavaleiro? TODO MUNDO: Me diz o teu nome primeiro. NINGUÉM: Pois não, meu senhor/ Já vou logo lhe falar/ Me chamo Ninguém/ e quero a consciência encontrar. TODO MUNDO: Pois eu me chamo Todo Mundo/ e passo o dia e o ano inteiro/ correndo atrás de dinheiro/ seja limpo ou seja imundo. (Belzebu, uma espécie de diabo, todo vestido de preto ou de vermelho, unhas pintadas de preto ou vermelho, sobrancelhas pintadas de preto e os ...