Durante um encontro do Pacto Nacional pelo
fortalecimento do Ensino Médio, na escola de ensino médio Alfredo Machado,
Madalena-CE, ouvi pela primeira vez o nome Kaspar Hauser. O orientador
nos apresentou o filme alemão “O enigma de Kaspar Hauser”, do ano de 1974, e
apesar de achar o começo monótono, desinteressante, a história é íncrivel, e
nos faz refletir sobre muitas questões, sendo a temática principal a aquisição
da linguagem e se esta aquisição estaria ligada com as experiências vividas no
“mundo físico”, bem como até que ponto a linguagem é capaz de alcançar o
pensamento?
O filme é baseado em fatos reais, e o personagem
Kaspar de fato existiu; assim como no filme, o garoto solitário e “sem fala”
teria sido encontrado no ano de 1828 em Nuremberg
Kaspar Hauser é um rapaz que vive há anos trancado
em um quarto escuro, ele jamais saiu de lá, e jamais teve algum tipo de contato
social. Por conta destas condições, Kaspar além de não falar também não possui
parte de suas funções motoras.
Partindo desse contexto, compreendemos o quanto,
não somente o convívio social, mas também experiências simples que vivenciamos
desde pequenos em nosso dia a dia, contribuem para o processo de assimilação e desenvolvimento
da fala.
Mesmo Kaspar saindo do isolamento e passando a conviver
em sociedade, para ele, nada faz sentido. É insensível a tudo.
Outra questão é de como o medo pode ser algo
criado, e não um evento natural. Kaspar é atraído por uma vela, mas, após se
queimar, aprende que o fogo machuca e passa a ter medo.
Contudo, observamos que mesmo aprendendo a falar e
escrever, Kaspar não compreende os signos. Quando nós falamos a palavra
cadeira, por exemplo, automaticamente nos vem à cabeça a imagem de uma cadeira,
mas para Kaspar isso era impossível, uma vez que ele jamais viu uma cadeira, o
que reforça a importância do processo de assimilação, que nada mais é do que um
processo cognitivo, que consiste em classificar novos eventos com base em
esquemas já existentes.
Com o desenrolar do drama, Kaspar quanto mais se
relaciona, mais desenvolve sua linguagem falada, escrita e corporal. Kaspar Hauser menciona em uma de suas falas:
- Tenho que aprender a ler e a escrever para depois poder compreender.
Conhecer o
mundo pela linguagem, por signos linguísticos, parece não ser suficiente para
Kaspar Hauser. Vygotsky insiste que o pensamento e a linguagem se originam
independentemente, fundindo-se mais tarde no tipo de linguagem interna que
constitui a maior parte do pensamento maduro. (Saboya, 2001 – p.5)
Kaspar
Hauser não passou por um processo de socialização, onde exercitaria a
compreensão através da prática social, não consegue atribuir significado às
coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem. Assim, analisando o caso de Kaspar
Hauser, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as
estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou
seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o
conhecimento por parte do sujeito. (Saboya, 2001 – p. 6)
REFERÊNCIAS
PEDAGOGIA COM ARES DA MATURIDADE. Resumo
do filme “O enigma de Kaspar Hauser”. Disponível em .
RODRIGUES, Liliane. Resenha do
filme “O enigma de Kaspar Hauser”. Disponível em .
SABOYA, Maria Clara Lopes. O enigma de Kaspar Hauser (1812?-1833): uma abordagem psicossocial -Psicologia
USP vol.12 no.2 - São Paulo 2001.
Não conhecia mas confesso que fiquei sensivelmente tomado de vontade de assistir a esse filme. Acredito que poderia muito me auxiliar no trabalho da coordenação pedagógica. Obrigado pela indicação e pelo comentário.
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